Portugal – Paraíso para investidores e empresas (insur)tech?
Portugal, um pequeno país na ponta sudoeste da Europa conseguiu, desde o virar da década, ano após ano, atrair cada vez mais turistas e investidores, chegando a um número recorde de 12,8 milhões de visitantes estrangeiros em 2018, para uma população pouco superior a 10 milhões.
Como explicar que Portugal se tornou o Segredo Mais Bem guardado da Europa para investidores estrangeiros, conforme definido pela KPMG em 2014, e um dos três destinos de viagens mais procurados do mundo, de acordo com os editores de livros de viagens da Lonely Plant em 2018?
Pode-se pensar que as condições climáticas sublimes de Portugal, país com o maior número de dias de sol da Europa, são primordiais. Outros comentarão que são as praias, a gastronomia e a sua população acolhedora. Sendo tudo isto verdade, não explica de facto porque é que em Portugal, os estrangeiros têm vindo constantemente a aumentar desde o virar da década.
Esta evolução foi ainda incentivada pelos seus trunfos naturais e sociais para além de o governo ter, em 2009, introduzido uma série de benefícios fiscais para cidadãos e não-cidadãos da UE, tornando a obtenção de residência rápida, fácil e financeiramente lucrativa. O objetivo era encorajar o investimento estrangeiro direto e ajudar a recuperar a economia após a Crise Financeira Global.
O afluxo de turistas, por outro lado, ofereceu a Portugal uma oportunidade única para mostrar as melhores qualidades do país, atrair novos empreendedores e tornar Lisboa numa cidade privilegiada para a criação de empresas inovadoras. Como resposta, os investidores vieram de todo o mundo.
O Golden Visa do governo português (um fast-track para investidores estrangeiros de países não pertencentes à UE) e outros medidas como projetos de renovação urbana, ajudaram a afirmar Portugal enquanto destino atraente para empresas estrangeiras de pesquisa e desenvolvimento, empresários e investidores. Lisboa tornou-se assim uma espécie de centro criativo e de pólo de start-up, enquanto Portugal é considerado como um local estável para fazer negócios e está classificado em 29º lugar de 190 no ranking Doing Business do Banco Mundial.
Portugal promove a criação de startups através do «Startup Visa», um programa de acolhimento para investidores estrangeiros que desejam desenvolver novos projetos em Portugal. A cidade de Lisboa garantiu a Web Summit durante os próximos 10 anos e criou o “Hub Criativo do Beato”, um novo projeto de incubação de empresas no centro de Lisboa que abrigará empresas inovadoras impulsionadas pela tecnologia. A Factory Berlin, uma das maiores incubadoras da Europa, a Mercedes-Benz e a Web Summit estão entre as primeiras empresas a conseguir um lugar no Hub Criativo do Beato.
Além disso, startups de tecnologia e centros de desenvolvimento digital têm vindo a ser criados por todo o país, e estão a recrutar trabalhadores qualificados locais. A Google abriu um centro de suporte nos arredores de Lisboa e criou 500 empregos técnicos para trabalhadores qualificados, bem como a BMW, Mercedes, Volkswagen, BNP Paribas, Natixis, Zalando, Bosch e Siemens, Euronext, entre muitas outras.
Consequentemente, a EY avaliou que, pelo segundo ano consecutivo, Portugal lidera a Europa na percepção do investidor sobre a atratividade e os seus planos de investimento de curto prazo.
Apesar de na Europa, Portugal representar uma percentagem menor no Investimento Directo Estrangeiro (IDE) captado, o país está entre os que obtiveram as pontuações mais elevadas, ocupando o nono lugar, com um aumento de 61% nos projectos de IDE, sendo os EUA, a França, o Reino Unido e Espanha a liderar o IDE em Portugal.
Entre 2008 e 2017, os setores que reivindicavam maiores volumes de investimento estrangeiro eram a eletricidade, o gás, a água e a construção. As actividades de TIC também registaram um aumento substancial de 291%, passando de € 2b para € 6b durante o mesmo período (GEE).
Todo este hype sobre Portugal e a sua capacidade tecnológica não vêm apenas dos recursos naturais do país, programas governamentais recentes e bom marketing. Os fundamentos para este ecossistema têm sua raiz na qualidade da educação que lhe permite figurar em 9º e 10º lugar (entre 61 e 63 países) respetivamente na disponibilidade de engenheiros qualificados, conforme o IMD World Competitiveness Ranking 2017, e em tecnologia digital e técnica de comunicação, no Ranking de Competitividade Digital Mundial 2017. Proficiência na língua inglesa, uma proximidade geográfica e cultural com o resto da Europa combinada com um custo de mão de obra abaixo da média na Europa, são todos fatores que explicam porque muitas empresas consideraram e decidiram investir em Portugal.
É assim que Portugal se tornou no paraíso dos investidores para as empresas (tech). Será que contribuirá para fomentar um maior número de insurtechs e fintechs? A questão continua por responder.
Sources:
https://www.pwc.pt/pt/fiscalidade/imagens/pwc_europe_best_kept_secret.pdf
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8fa17496-4204-42ba-8d3e-48bde4bea6de
http://www.portugalin.gov.pt/2019/06/01/portugal-is-in-the-limelight-for-foreign-investors/
https://www.ey.com/pt/en/home/ey-attractiveness-survey-portugal-june-2018
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